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quarta-feira, 5 de março de 2014

Inovações sociais na periferia

Onde estão as pessoas que querem transformar o mundo? Que idade elas têm? Elas estão nas ruas? Nas organizações sociais? No governo? Nas empresas sociais? Em grandes empresas? No centro? Nas periferias?

No Impact Hub, nos últimos 8 anos, temos apoiado pessoas com ideias empreendedoras que queiram criar um mundo radicalmente melhor. Embora a maioria das pessoas acredite que quem quer transformar o mundo está nas organizações sociais, vemos que não podemos nos limitar a esse grupo. Existem pessoas que não estão ligadas à nenhuma instituição e estão fazendo a sua parte no seu bairro, existem outras que trabalham no governo, algumas nas grandes empresas, ou atuando como liderança em bairros periféricos.

Na periferia dos grandes centros urbanos, a população inova todos os dias para identificar formas de melhorar a qualidade de vida da sua comunidade. Essas inovações podem ser formas alternativas de construção para baratear o custo da casa própria, o reúso de materiais que outras pessoas descartam ou mesmo novas formas de utilizar a tecnologia e os telefones celulares para agendamento de cabeleireiro e outros fins criados a partir de necessidades locais.

Além dessas inovações do cotidiano, também são criadas soluções com alto potencial de replicabilidade. Um dos melhores exemplos é a moeda social desenvolvida no Banco Palmas, que conseguiu promover o desenvolvimento local, a concessão de crédito e outros serviços financeiros para a população. O sucesso da moeda social no Conjunto Palmeira, na periferia de Fortaleza, atraiu a atenção de muitas pessoas interessadas na tecnologia social desenvolvida. Foi criado o Instituto Palmas para apoiar a replicação de bancos comunitários em todo o país.

Outra iniciativa inovadora é o coletivo Periferia em Movimento que retrata a periferia na voz dos próprios moradores. Jornalistas que se desenvolveram na região questionam a visão e a versão da história da "periferia" contada pelo "centro". Um jornalismo inteligente que demonstra as riquezas e os desafios da periferia. Agora exploram como disseminar essa metodologia para que mais periferias possam contar a sua própria versão.
Esses exemplos, que são alguns entre muitos, desmistificam o termo inovação social que remete à muitas pessoas a necessidade de grandes investimentos. A inovação social emerge da criatividade de quem enfrenta desafios e busca soluções inovadoras e efetivas. Essas pessoas podem estar na periferia, no centro, em organizações sociais, em empresas, no governo.

No Impact Hub, buscamos criar espaços e experiências para integrar essas pessoas inquietas que não se conformam com problemas sociais, ambientais, culturais e com a desigualdade econômica. Elas enxergam oportunidades de mudança, mobilizam-se e mobilizam a sua 
comunidade para transformar a realidade. A mistura de várias pessoas, como essas, gera uma comunidade efervescente e tem o poder de cocriar um mundo radicalmente melhor.

Artigo publicado por Henrique Bussacos na Coluna Empreendedor Social da Folha de São Paulo.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Governança, Inovação e Escala em Rede

A maioria das pessoas acredita que inovações sociais bem sucedidas deveriam ser replicadas e adaptadas a diferentes contextos locais que enfrentam desafios semelhantes. Muito se fala da importância de escalar inovações sociais, negócios sociais, mas o grande desafio é como fazer.
Os métodos mais conhecidos de ampliar a escala de um produto ou serviço são: criar uma grande empresa ou transformar o produto ou serviço em uma política pública. Esses são dois caminhos válidos, mas que não são viáveis para algumas inovações sociais.
Para tentar resolver esse desafio temos explorado as redes como potencial resposta a necessidade de escalar algumas inovações sociais. As redes permitem um crescimento mais orgânico, no qual os atores locais lideram o processo de crescimento, expansão e adaptação do modelo ao contexto local. Esse processo também decentraliza a necessidade de capital e cada empreendedor local mobiliza uma comunidade e recursos para distribuir os produtos e serviços.
Quando adotamos essa estratégia de crescer em rede emergem alguns desafios: como tomar decisões? Como manter agilidade e algum nível de alinhamento? Existem vários teóricos de redes que argumentam que essas redes deveriam ser totalmente livres e que qualquer tentativa de desenvolver modelos de governança e gestão invalidariam a rede em si.
No Impact Hub acreditamos num caminho do meio, no qual é possível assegurar um nível de alinhamento por valores, princípios, propósito e algumas atividades comuns, enquanto deixamos grande espaço para as iniciativas locais inovarem.
O Impact Hub surgiu em Londres em 2005, quatro empreendedores sociais formaram uma comunidade de inovadores sociais que cocriou um espaço e serviços para alavancar negócios e inovações sociais. Depois disso, criamos o segundo espaço em São Paulo em 2007. Nos últimos anos estivemos ativamente trabalhando para construir uma rede que fomentasse inovações locais, criasse espaço para escalar o melhor de cada Impact Hub local e assegurasse uma governança participativa. Apoiamos a criação de Impact Hubs no Brasil e em outras regiões e atualmente existem mais de 40 Impact Hubs no mundo e 20 que serão abertos nos próximos 18 meses.
Esse resultado concreto mostra que é sim possível crescer em rede. Temos vários desafios e estamos experimentando novos modelos de gestão e governança, já que os atuais não respondem as necessidades dessa nova forma de organização.
Nos dias 18/11/2013 e 02/12/2013 os co-fundadores do Impact Hub São Paulo e sócios do Impact Hub Global vão contar um pouco do aprendizado nessa jornada e de como estão lidando com os desafios atuais. Depois serão extraídos dessa experiência princípios que podem ser úteis para ampliar a escala de negócios e inovações sociais.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

O que é impacto?

Nos últimos anos, a palavra "impacto" tem aparecido com mais recorrência no discurso de organizações sociais e empresas de vários portes.

Existe uma nova classe de ativos emergindo como investimentos de impacto, negócios sendo denominados "negócios de impacto" e reflexões sobre o impacto socioambiental e econômico de atividades sociais e empresariais.

Investimento de impacto é um termo que tem sido utilizado para nomear investimentos financeiros que buscam gerar impacto socioambiental positivo além de retorno financeiro, como é o caso da Vox Capital, primeiro fundo de investimento de impacto do Brasil. Esse setor vem crescendo, surgiram outros fundos de investimento de impacto no país, e grandes bancos já estão começando a estudar o tema com mais profundidade. O JPMorgan já publicou um relatório sobre os ativos de impacto que estão emergindo.

Negócio de impacto já é um termo que gera mais controvérsia. Alguns utilizam como sinônimo de negócio social. Outros definem negócios sociais como negócios que devem estar focados no seu impacto social e não devem pagar dividendos a investidores. No entanto, os negócios de impacto seriam aqueles que podem receber investimento de impacto e pagar dividendos aos investidores.

Impacto social e ambiental já são termos mais comuns e que são utilizados por organizações sociais para demonstrar os seus resultados. Existem vários indicadores que podem ser utilizados para mensurar o impacto social de uma organização da sociedade civil ou mesmo de um negócio.

O aumento do uso desses termos reflete o crescimento de uma nova economia, uma economia de impacto, que passa a ser mais consciente da influência que tem na sociedade e no planeta. Agentes sociais e econômicos passam a olhar mais para os aspectos sociais e ambientais das suas ações, cada um em um nível diferente. Há muito trabalho a ser feito, muitas empresas ainda desconhecem todo esse campo, mas os avanços também devem ser celebrados.

Para nós do Hub, que a partir de agora passa a se chamar Impact Hub, impacto refere-se a ousadia de fazer sua atividade cada dia melhor, estar consciente do impacto que suas ações geram na sociedade e no ambiente ao seu redor, buscar gerar impacto positivo nas relações que criamos com cada pessoa.

Agora sentimos que nosso nome está mais completo e integra nossos valores. A palavra Hub remete a conexão e colaboração e a palavra "impact" traz o propósito das nossas ações colaborativas: gerar impacto em direção a um mundo radicalmente melhor.

Se quiser conferir mais algumas definições de impacto dos membros do Impact Hub, acesse: www.facebook.com/ImpactHubSaoPaulo

Artigo publicado na Folha de São Paulo na coluna Empreendedor Social.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Inovação Social e Modelos de Negócio Colaborativos

A inovação social pode se dar em organizações da sociedade civil, negócios sociais, no governo ou em empresas. Algumas inovações, no entanto, estão vindo da própria forma de pensar a organização, no seu modelo de governança e na relação entre os seus públicos de interesse.

Ao inovar na governança de uma organização estamos alterando as relações de poder entre os públicos de interesse, provocando o nosso próprio modelo mental de como nos organizamos e nos relacionamos. Esse processo pode ser transformador e nos ajudar a gerar mais impacto social positivo e realizar ações que de fato transformem a sociedade.

No HUB, uma comunidade global de inovadores sociais, que oferece conhecimento, espaço e consultoria em inovação social para indivíduos, organizações e empresas, temos experimentado cocriar novos desenhos de governança nas iniciativas que desenvolvemos com nossos membros.

Em 2010, observamos que havia muito conhecimento na rede do HUB e que ele poderia fluir mais entre os membros da rede. Nesse contexto emergiu a HUB Escola, um negócio colaborativo que convida especialistas a compartilhar sua experiência promovendo inovação social em organizações.

A HUB Escola é cocriada com esses especialistas e o seu modelo de negócios incentiva cada especialista a contribuir com o todo. Isso acontece pois existem incentivos humanos, realizamos atividades conjuntas para integrar o grupo de especialistas, e incentivos econômicos, o cálculo do pagamento de cada especialista depende do número de participantes da sua oficina e do faturamento total da HUB Escola.

Os negócios colaborativos têm um grande poder de mudar nossa relação com o consumo, nosso papel como clientes e os modelos de governança das organizações. Atualmente, as empresas têm olhado mais para esses modelos de negócio como uma nova tendência e oportunidade de mercado. No entanto, essa também é uma oportunidade para as organizações da sociedade civil e os negócios sociais criarem novos sistemas de criação e distribuição de valor.

O importante ao desenhar um negócio colaborativo é assegurar que existam incentivos humanos e econômicos a colaboração. Não é suficiente agregar um grupo de pessoas e falar da importância da colaboração e depois operar como um negócio convencional sem mecanismos de incentivos que favoreçam uma nova forma de pensar e agir.


Para se aprofundar nesse tema recomendo o livro Mesh, de Lisa Gansky e para saber mais das atividades que acontecem na HUB Escola.

Artigo publicado na Folha de São Paulo na coluna Empreendedor Social.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Vídeo explicativo: Inovação Social

Vale a pena ver esse vídeo que explica melhor o conceito de Inovação Social, produzido pela Social Innovation Generation no Canadá.


quarta-feira, 22 de maio de 2013


The Hub Sao Paulo - por Ricardo Lisboa
O desenvolvimento do terceiro setor no Brasil, o surgimento do setor de negócios sociais, a modernização do setor público e o aumento do número de empresas atentas aos aspectos socioambientais de suas operações aumentou a complexidade do setor social.

Com o crescimento do setor vieram vários novos termos como empreendedor social e inovação social. Empreendedor social é o nome dessa coluna e pode ser definido como um agente de transformação da sociedade que empreende uma nova tecnologia social ou um novo empreendimento com fim social.

Inovação é comum no mundo dos negócios, mas é menos utilizada no setor social. No HUB temos trabalhado com este tema desde 2005 em Londres e a partir de 2006 no Brasil.  Inovação social é uma nova solução para um problema social, uma solução mais efetiva, eficiente, sustentável ou justa que as soluções já existentes, e que, prioritariamente, gere valor para a sociedade como um todo ao invés de beneficiar apenas alguns indivíduos. Essa é a definição de inovação social cunhada pela Stanford Social Innovation Review, a publicação mais reconhecida sobre o tema.

Inovação social na prática já ocorre há muito tempo, mas o uso do conceito é mais recente e tem se tornado cada vez mais relevante a medida que os desafios socioambientais ficam mais complexos. Podemos encontrar inovações sociais em vários setores no Brasil e no mundo em diferentes contextos: empresas, governo, organizações sociais e movimentos. Existem alguns mais conhecidos como o microcrédito e seu maior ícone, Muhammed Yunus, a metodologia de educação inovadora da Kahn Academy (utiliza vídeos e outras ferramentas online para melhorar a qualidade do aprendizado das pessoas e alcançar um público maior), o Fabio Rosa no sul do Brasil com geradores de energia renovável acessíveis, os Doutores da Alegria entre outros.

Também podemos identificar inovações sociais no nosso dia a dia. Associações de moradores identificando novas formas de se organizar, empresas que tornam serviços como crédito, educação e saúde acessíveis para mais gente a preços justos, organizações sociais criando novos serviços de apoio para reduzir a pobreza e aumentar a qualidade de vida das pessoas de baixa renda. As inovações sociais não envolvem necessariamente o uso de tecnologias avançadas, mas certamente a tecnologia tem permitido a aceleração do ritmo de mudança no setor social.

O HUB identifica e alavanca inovações sociais como essas, se você tem uma ideia e quer coloca-la em prática para solucionar um problema socioambiental, entre em contato com o HUB para ver como você pode se tornar membro e colocar sua ideia no mundo.

Todos os dias recebemos jovens de todas as idades no HUB com ideias incríveis que vão fazer a diferença no mundo. Em um mesmo dia encontramos: o grupo de jovens do Imagina na Copa que tem inspirado muitas pessoas no Brasil a mudar o olhar e começar a fazer a diferença para construirmos um país incrível até a Copa do Mundo; a empresa Djengo que desenvolveu um sistema inteligente para fomentar a cultura da carona em organizações; o Casas & Cafofos que desenvolve o layout de pequenos comércios na periferia para potencializar o desenvolvimento local; colaboradores da Natura atuando como intraempreendedores sociais. Imagine o que esse grupo cria quando se junta no HUB!

Como disse Einstein “Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”, então que tal buscarmos novas soluções para os desafios socioambientais? Não temos a resposta para todos os desafios, mas sabemos que a solução passa por colaboração e inovação e é isso que promovemos no dia a dia nos HUBs pelo mundo.

Artigo publicado na Folha de São Paulo na coluna Empreendedor Social.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Empreendedorismo social? Negócio social? Empresa social? Inovação social? Social good?


Muitos perguntam sobre a diferença de todos esses termos: empreendedorismo social, negócio social, empresa social, inovação social, social good. Neste post tentei reunir explicações e pontos de vista, pois não existe uma definição única para cada um dos termos.

Começarei por empreendedorismo social que é o termo mais conhecido e utilizado desde a década de 80, quando a Ashoka foi fundada e começou a lidar com o tema. A definição da Ashoka de empreendedor social é uma pessoa com ideias criativas e inovadoras capazes de provocar transformações com amplo impacto social. Teoricamente, o termo poderia ser associado a empreendedores de organizações sociais, empresas ou mesmo empreendedores no setor público, desde que a pessoa estivesse alinhada ao perfil descrito. No entanto, no campo social as pessoas tendem a associar empreendedores sociais a empreendedores de organizações sem fins lucrativos.

O segundo termo é empresa social, este termo começou a ser utilizado na Europa (social enterprise). Na Itália, ele foi resultado da evolução das cooperativas e empreendimentos ligados a economia solidária. Na Inglaterra, as empresas adotam o formato jurídico de uma empresa de interesse comunitário (as CICs), que entre outras regras limita o retorno do investidor e exige reinvestimento na empresa e na comunidade local.

Nos EUA o termo mais comumente utilizado é negócio social (social business), são empresas com o objetivo de resolver um problema social, mas normalmente adotam o formato jurídico de uma empresa convencional e podem classificar-se como uma B-Corporation. No Brasil, a Artemisia foi pioneira neste campo e também adotou este termo. Já MuhammedYunnus cunhou o termo negócios sociais considerando que esses negócios não poderiam distribuir dividendos a seus acionistas, deveriam apenas retornar o capital investido.

No Brasil, os termos negócios sociais e empresas sociais têm sido utilizados como sinônimos. Baseado em discussões em conferências como o SOCAP e outras conversas com pessoas do campo, eu diria que se formos diferenciar os termos, as empresas sociais estariam mais próximas das organizações sociais, enquanto os negócios sociais estariam mais próximos dos negócios convencionais.

Temos também a inovação social, essa menos citada no Brasil. O The Hub vem trabalhando com esse termo desde o início de suas atividades em 2005, pois a intenção da organização é formar uma comunidade, não só de empreendedores, mas também de outros atores do ecossistema de inovação social. Antes disso a Stanford, já tinha lançado em 2003 a sua publicação Stanford SocialInnovation Review (SSRI). O termo inovação social remete a uma solução para um problema social que cria valor primeiramente para a sociedade em geral, essa foi a definição de Phills em seu artigo na SSRI em 2008. Inovação social é o termo mais amplo que abrange os outros termos citados neste post.

Por fim, temos o social good que não foi traduzido para o português, mas de acordo com o Programa Social Good Brasil é um termo da cultura digital, amplamente difundido, que significa usar a força das tecnologias, das novas mídias e do pensamento inovador para o enfrentamento e solução de problemas sociais. Este termo é mais recente e tem sido amplamente divulgado no Social Good Summit, liderado pela Mashable. No site do seminário Social Good Brasil são apresentados exemplos de ações social good.