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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Como os negócios sociais podem contribuir com o desenvolvimento e a erradicação da pobreza no Brasil?



Os negócios sociais buscam em última instância erradicar a pobreza e promover o desenvolvimento. Para buscar esses objetivos é importante primeiramente mapearmos a pobreza e, posteriormente (num próximo post), definirmos desenvolvimento.

A tabela abaixo demonstra que a pobreza está claramente concentrada nas regiões norte e nordeste (ainda mais se medida em relação a população total de cada região). Essa tabela elenca as pessoas com renda per capita de até R$70 (um pouco acima da linha internacional da pobreza que seria US$1.25 ao dia).



Total Pessoas
%
Urbano
Rural

Pessoas
%
Pessoas
%
Brasil
16.267.197
100
8.673.845
53
7.593.352
47
Norte
2.658.452
17
1.158.501
44
1.499.951
56
Nordeste
9.609.803
59
4.560.486
48
5.049.317
52
Sudeste
2.725.532
17
2.144.624
79
580.908
21
Sul
715.961
4
437.346
61
278.615
39
Centro-Oeste
557.449
3
372.888
67
184.561
33
  Fonte: Plano Brasil Sem Miséria

De acordo com estudos que realizamos de negócios sociais na África (principalmente no Quênia) e na Índia, poucos negócios sociais conseguem de fato atingir essa camada mais pobre diretamente. O Kickstart, um negócio social no Quênia (e em outros países do leste Africano), que desenvolve bombas de irrigação para aumentar a produtividade dos pequenos agricultores, não atinge a camada mais pobre da população. Isso não quer dizer que o negócio não contribui para a redução da pobreza, pois ele atinge pessoas muito pobres (mas em sua maioria acima da linha da pobreza internacional) e essas pessoas podem vir a empregar os mais pobres.

Ainda não temos números para avaliar com maior precisão se o mesmo ocorre com os negócios sociais Brasileiros. Para isso, deveria ser feito uma pesquisa junto a essa população mais pobre beneficiada pelos negócios. Pelo que observamos no exterior somado ao mapeamento dos negócios sociais no Brasil, acreditamos que provavelmente a maioria deles deve atingir as pessoas com renda per capita entre R$ 70 e R$ 200. Dificilmente negócios que vendem produtos e serviços (os negócios inclusivos podem atingir um pouco mais essa população) atingem as pessoas abaixo da linha da pobreza, que vivem com menos de R$ 70 hoje, e são 16 milhões de brasileiros.

Esse fenômeno pode se dar por algumas razões. Primeiro, é importante segmentar esta categoria de até 2 salários mínimos, pois este universo compreende muitas diferenças, por exemplo, está nele a população de 16 milhões de brasileiros abaixo da linha da pobreza, mas também pessoas com renda per capita de R$200. Além disso, muitas vezes essas pessoas são excluídas dentro de suas próprias comunidades, que já têm uma renda bastante baixa. Na Tekoha trabalhamos com comunidades de baixa renda e observamos que muitas vezes algumas pessoas dentro das comunidades não têm tantas oportunidades como outras e numa análise mais superficial classificaríamos todas elas num mesmo segmento de população de baixa renda.

Outra dificuldade para os negócios sociais atingirem essa população é que ela se concentra nas regiões norte e nordeste (76% da pobreza extrema) e nessas regiões, principalmente no interior, o Brasil possui baixa densidade populacional, muitas vezes, com acesso bastante limitado. Isso impede a criação de modelos de negócios financeiramente viáveis para vender diretamente a essa população e dificulta a participação dessas pessoas em negócios que buscam incluí-las em sua cadeia produtiva. Esse cenário é diferente na Índia, por exemplo, que possui um volume imensamente maior (em torno de 440 milhões enquanto no Brasil são 16 milhões) de pessoas abaixo da linha da pobreza. Numa visita a negócios sociais na Índia, ficou claro que densidade populacional é um critério fundamental para um negócio viabilizar-se financeiramente em sua região. O volume de vendas é muito relevante para a viabilidade econômica do negócio que opera com margens mais baixas para tornar os produtos/serviços mais acessíveis.

Outro desafio é a capacidade dessa população adquirir os produtos ou serviços. A maioria dos negócios visitados na Índia eram muito pragmáticos, tinham consciência que não conseguiam atender a população mais pobre, pois estes não tinham recursos mínimos para participarem do mercado consumidor, mesmo com produtos mais acessíveis. Este desafio tem duas soluções já bem desenvolvidas, ou o negócio social opera com uma precificação de acordo com a capacidade de compra, por exemplo, oferecendo gratuitamente para aqueles que não conseguem adquirir, como é o caso do “Aravind EyeHospitals”. Negócios social que surgiu na Índia oferecendo cirurgias de catarata num processo extremamente inovador. Outro caminho é o caso de alguns bancos de microcrédito na Índia e Bangladesh que têm desenvolvido programas de proteção social em parceria com o governo para trabalhar de forma não lucrativa com essa parcela mais pobre da população (é o caso da BRAC em Bangladesh). Entre outras soluções viáveis que não onerem o negócio social que são e poderiam ser desenvolvidas.

Para erradicar a pobreza acreditamos que o papel das políticas sociais é fundamental e os negócios sociais podem contribuir no processo criando oportunidades para os próximos passos dessas pessoas, que após terem uma renda mínima precisam de oportunidades para crescer, se desenvolverem e colaborarem no desenvolvimento de suas comunidades.

Acreditamos que o mapeamento de negócios sociais/inclusivos foi um excelente passo rumo a compreender este campo no Brasil. Nos próximos estudos seria interessante pesquisarmos mais sobre o público atendido pelos negócios sociais. Dessa forma, poderemos entender melhor o papel dos negócios sociais no processo de redução da pobreza e promoção da justiça social e do desenvolvimento sustentável no país. 

Escrito por Carolina de Andrade (@andradecarol) e Henrique Bussacos (@hbussacos)

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