Quatro anos atrás lembro de estar numa reunião com a Leila Novak do Instituto Papel Solidário e com o Pablo Handl do The Hub. Estavamos discutindo como poderíamos fazer um contrato social de um negócio social no Brasil, já que não tínhamos referências ainda no país.
Nesses quatro anos o campo vem crescendo e ganhando reconhecimento com um trabalho grande de apoio e disseminação do conceito pela Artemisia e outros apoiadores desse setor no país. Embora acredite profundamente no potencial desses novos negócios na redução da pobreza e na melhoria da qualidade de vida das pessoas, não acredito em uma única solução para os problemas que temos no mundo. E tenho visto muitas vezes os negócios sociais sendo citados como 'a' solução, principalmente por pessoas que estão distantes do dia-a-dia da gestão de um negócio que interage diretamente com a pobreza e das comunidades impactadas pelos negócios.
Os negócios sociais têm demonstrado resultados promovendo a geração de renda e oportunidades para pessoas excluídas. Alguns exemplos são: a Solidarium comercializando produtos artesanais para grandes varejistas, a Gastromotiva capacitando jovens de baixa renda para empreenderem negócios gastronômicos, o Banco Pérola realizando empréstimos para jovens empreendedores em comunidades de baixa renda, a Tekoha comercializando brindes corporativos de comunidades excluídas entre outros. No entanto, existem raros exemplos de negócios sociais resolvendo outros problemas sociais não relacionados a geração de renda.
As pessoas e a mídia, que agora está compreendendo melhor o conceito de negócio social, costumam buscar ‘a’ solução para os problemas do mundo. E os negócios sociais trazem uma proposta bastante tentadora: ‘mude o mundo ganhando dinheiro’. No entanto, as pessoas que trabalham nos negócios sociais no Brasil sabem que essa proposta é factível, mas muito desafiadora e longe de estar consolidada. Na Europa e nos Estados Unidos, como o campo de negócios sociais já está mais evoluído, algumas pessoas já apresentam um olhar mais crítico sobre o dogma de que os métodos de mercados podem resolver todos os problemas, inclusive a pobreza. Ainda mais depois de terem passado pela última crise financeira de 2008/09.
Os negócios sociais são uma importante ferramenta para somar aos esforços das organizações da sociedade civil, do governo e dos trabalhos de responsabilidade corporativa das empresas. Eles não são ‘a’ solução, mas sim uma solução inovadora que pode contribuir muito na construção de um mundo melhor.
Este mês escrevi um ‘paper’ sobre a relevância dos negócios sociais para o desenvolvimento social e econômico. Analisando um caso estudado com mais profundidade: a KickStart (organização que comercializa bombas de irrigação para agricultura familiar em países da África). Fica claro que esta organização contribui muito para a redução da pobreza, mas ela não chega até os mais pobres (índice de extrema pobreza definido como 50% da linha da pobreza). Outros casos no Brasil, com menos dados para fazer afirmações, demonstram o mesmo, na maioria das vezes, eles não atingem os indivíduos em pobreza extrema. Isso também ocorre nas microfinanças que visam lucro, como os muito pobres apresentam maior risco, menores empréstimos e menor rentabilidade, as microfinanças que visam um maior retorno sobre seus ativos, costumam focar nos pobres, mas não atingem os muito pobres. Existem exceções como o Grameen Bank e a BRAC em Bangladesh que não visam lucro, mas são negócios sociais e atingem os extremamente pobres.
Se quiser mais detalhes sobre essas análises é só baixar o ‘paper’ em inglês, clicando aqui (após clicar, para fazer o download gratuito - comum - é só aguardar alguns segundos).
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