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domingo, 21 de novembro de 2010

Novas formas, velhos padrões

Grande parte das inovações ocorrem na forma. Poucas transformações alteram o modelo mental, os padrões e princípios que regem as organizações. Muitas vezes o seu propósito se perde na busca pela manutenção da própria organização ou setor.

Essa conclusão surgiu com duas experiências que vivenciei recentemente. Uma delas foi um comentário de um profissional europeu de desenvolvimento socio-econômico que gostaria muito de atuar na América Latina, mas o ''problema'', é que a maioria dos países têm um nível educacional elevado comparado a outros países em desenvolvimento e por isso ele não teria oportunidade de trabalhar em instituições internacionais nesses países, já que a concorrência com profissionais locais é acirrada. Isso explicita o fato de parte da indústria de desenvolvimento operar em torno de si mesma, deixando muitas vezes os seus objetivos principais de lado e passando a buscar recursos ou empregos na área.

O mesmo padrão ocorreu quando observei estratégias de negócios sociais identificando como negativo o fato de grande parte de um estado na India ter acesso a linhas de micro-crédito. Isso faria sentido para uma pequena organização que precisa se sustentar e assegurar que atenderá mais beneficiários no futuro, mas não para uma organização que já está pagando altos dividendos para seus acionistas, como é esse caso. Sendo assim não haveria oportunidades de negócio a serem atendidas por esse negócio social que atua com micro finanças. Novamente, a organização que foi criada para atender necessidades de pessoas de baixa renda perde de vista sua missão e começa a alimentar a si mesma, deixando de buscar problemas sociais a serem resolvidos, e passando a procurar simplesmente mais clientes.

Para estarmos sempre conectados ao propósito das organizações é preciso aceitarmos, que muitas vezes, organizações e setores não precisam ser tão grandes quanto gostariam, em alguns casos deveriam deixar de existir ou passar por um processo de reinvenção radical. Teoricamente é simples, mas na prática isso passa por perdas de empregos, salários, prestígio, recursos públicos, investimentos privados e pelo fim do nosso próprio trabalho e posição na sociedade. Essas transformações exigem desapego.

Com receio de termos que lidar com todo esse processo, acabamos nos concentrando em mudanças superficiais e inovações em modelos de negócio que não passam por uma transformação nos valores e princípios das organizações. Esse risco costuma ser maior em grandes organizações que têm grande parte dos seus colaboradores distantes dos seu clientes, beneficiários e outros públicos de interesse.

3 comentários:

  1. concordo plenamente!
    É cultural. Somos uma sociedade baseada na falta. ou melhor do desejo na falta. na busca pela satisfacao dos desejos. e isso se reflete no coletivo. seja ele qual for. cada um buscando o seu lugar ao sol. individuos e organizacoes. desconsiderando a interdependencia (todos dependemos do sistema em diversas amplitudes), a relacao intima dos afetos que os desejos causam uns nos outros.

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  2. É verdade Ricardo, mas sou otimista, acredito que estamos evoluindo. O importante é que mais pessoas tentem levar essas ideias para prática. Tento fazer isso em negócios sociais e em organizações de desenvolvimento, tenho muita dificuldade, mas vejo mudanças positivas acontecendo.

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  3. Boss, a Jô disse que seu blog ajudou MUITO ela a pensar sobre algumas coisas lá no ArteSol... =) beijocasss saudades!

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