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terça-feira, 16 de outubro de 2012

Empreendedorismo social? Negócio social? Empresa social? Inovação social? Social good?


Muitos perguntam sobre a diferença de todos esses termos: empreendedorismo social, negócio social, empresa social, inovação social, social good. Neste post tentei reunir explicações e pontos de vista, pois não existe uma definição única para cada um dos termos.

Começarei por empreendedorismo social que é o termo mais conhecido e utilizado desde a década de 80, quando a Ashoka foi fundada e começou a lidar com o tema. A definição da Ashoka de empreendedor social é uma pessoa com ideias criativas e inovadoras capazes de provocar transformações com amplo impacto social. Teoricamente, o termo poderia ser associado a empreendedores de organizações sociais, empresas ou mesmo empreendedores no setor público, desde que a pessoa estivesse alinhada ao perfil descrito. No entanto, no campo social as pessoas tendem a associar empreendedores sociais a empreendedores de organizações sem fins lucrativos.

O segundo termo é empresa social, este termo começou a ser utilizado na Europa (social enterprise). Na Itália, ele foi resultado da evolução das cooperativas e empreendimentos ligados a economia solidária. Na Inglaterra, as empresas adotam o formato jurídico de uma empresa de interesse comunitário (as CICs), que entre outras regras limita o retorno do investidor e exige reinvestimento na empresa e na comunidade local.

Nos EUA o termo mais comumente utilizado é negócio social (social business), são empresas com o objetivo de resolver um problema social, mas normalmente adotam o formato jurídico de uma empresa convencional e podem classificar-se como uma B-Corporation. No Brasil, a Artemisia foi pioneira neste campo e também adotou este termo. Já MuhammedYunnus cunhou o termo negócios sociais considerando que esses negócios não poderiam distribuir dividendos a seus acionistas, deveriam apenas retornar o capital investido.

No Brasil, os termos negócios sociais e empresas sociais têm sido utilizados como sinônimos. Baseado em discussões em conferências como o SOCAP e outras conversas com pessoas do campo, eu diria que se formos diferenciar os termos, as empresas sociais estariam mais próximas das organizações sociais, enquanto os negócios sociais estariam mais próximos dos negócios convencionais.

Temos também a inovação social, essa menos citada no Brasil. O The Hub vem trabalhando com esse termo desde o início de suas atividades em 2005, pois a intenção da organização é formar uma comunidade, não só de empreendedores, mas também de outros atores do ecossistema de inovação social. Antes disso a Stanford, já tinha lançado em 2003 a sua publicação Stanford SocialInnovation Review (SSRI). O termo inovação social remete a uma solução para um problema social que cria valor primeiramente para a sociedade em geral, essa foi a definição de Phills em seu artigo na SSRI em 2008. Inovação social é o termo mais amplo que abrange os outros termos citados neste post.

Por fim, temos o social good que não foi traduzido para o português, mas de acordo com o Programa Social Good Brasil é um termo da cultura digital, amplamente difundido, que significa usar a força das tecnologias, das novas mídias e do pensamento inovador para o enfrentamento e solução de problemas sociais. Este termo é mais recente e tem sido amplamente divulgado no Social Good Summit, liderado pela Mashable. No site do seminário Social Good Brasil são apresentados exemplos de ações social good.

sábado, 29 de setembro de 2012

Jogando pela Transformação


Está surgindo um movimento grande na sociedade civil que promove o uso de tecnologias para a transformação social, conhecido como Social Good, e uma das tecnologias que tem se destacado é o uso de jogos digitais. A organização que lidera este movimento está baseada em Nova Iorque, mas tem representações em outras regiões. No Brasil e na América Latina, a principal liderança é o Professor da USP Gilson Schwartz. Outra iniciativa que surgiu no Brasil e está sendo desenvolvida em vários países simultaneamente é o Play The Call, liderado pelo Edgard Gouveia, um dos fundadores do Instituto Elos.

Já existem estudos demonstrando que os jogos promovem alteração no comportamento das pessoas. Um estudo realizado pela HopeLab e pela Robert Wood Johnson Foundation demonstrou que 59% dos jovens que jogaram um jogo que promovia uma vida mais saudável aumentaram seu volume de exercícios físicos. Um jogo que está sendo desenvolvido pelo Banco Mundial, o Evoke, é um dos destaques entre as iniciativas que estão sendo criadas para "gamificar" o processo de transformação social. O jogo Half the Sky que será lançado este mês tem como objetivo principal a promoção da saúde e de oportunidades para as mulheres. Grandes atores do setor social, empresas e fundações estão investindo no desenvolvimento de jogos para a transformação social. Alguns exemplos são a Fundação das Nações Unidas, Johnson & Johnson, Fundação Pearson, Fundação Rockfeller, Intel entre outras.

O ICom, no Programa Social Good em parceria com o IVA, é um dos pioneiros em criar um jogo, o Conecta, que reproduz os desafios locais e cria um cenário similar ao da atuação de uma fundação comunitária na era digital. O jogo busca promover várias ferramentas (Portal Transparência, Cidade Democrática, Votenaweb, ViaCiclo, Pegada Ecológica, Mobilize entre outras) para as pessoas agirem online e presencialmente na sua comunidade. Neste processo os jogadores são estimulados, de forma divertida, a realizar trabalhos voluntários, fazer doações e participar ativamente da sua comunidade. Um dos destaques desse jogo é o seu carácter local, ele está sendo desenvolvido pelo ICom, com um grupo de jovens da Grande Florianópolis, em parceria com a Fisiogames. Seu objetivo é incentivar mais pessoas, principalmente jovens, a realizarem atividades de interesse público, trabalho voluntário e doações para organizações da sociedade civil.

As missões no Conecta podem ser de aprendizado, que buscam sensibilizar e prover informações para os jogadores (ex.: quais são os maiores desafios na área da educação em Florianópolis de acordo com o relatório do Floripa Te Quero Bem? O jogador deve pesquisar e responder a missão para somar pontos; de ações online (ex.: conheça e divulgue as ações do Padrinho Nota 10 na sua rede no facebook? O jogador divulga e soma pontos); ou ainda de ações presenciais (ex.: participe do mutirão de limpeza da praia com o Projeto Route, tire uma foto e coloque aqui. Ao divulgar a foto o jogador soma pontos).

O Conecta tem um carácter local, mas ele pode ser facilmente replicado para outras cidades, por fundações comunitárias ou organizações que buscam incentivar ações de engajamento social. A versão 1.0 do jogo será lançada em novembro no Seminário Social Good. Participe do seminário e conheça essa e outras inovações no uso de tecnologias para a transformação social!

terça-feira, 24 de julho de 2012

Colaboração


Colaboração, cocriação, trabalho colaborativo, aprendizado coletivo e outros termos que expressam a colaboração estão cada vez mais presentes no nosso dia-a-dia.
Termos relacionados a colaboração colocam o processo em foco, dessa forma o processo passa a ser tão relevante quanto o resultado. O processo de um programa de aprendizado, por exemplo, se feito de forma colaborativa pode gerar muitos outros “produtos” que não estão diretamente ligados aos resultados daquele programa. Desse processo, podem emergir novas ideias, parcerias, relacionamentos que vão muito além do objetivo inicial.

Nos negócios a colaboração também passou a ser um termo recorrente. Os escritórios compartilhados como o The Hub e aqui em Florianópolis o SmartMob estão crescendo. Os processos de inovação aberta viabilizam soluções para novos produtos e serviços contando com a colaboração entre empresa, consumidores e cientistas. Outros negócios contam com a colaboração entre as pessoas para repensar atitudes como o Emprestaquilo que é uma plataforma no Facebook para o compartilhamento de objetos, livros, ferramentas entre outros.

Na área de inovação social a colaboração é presente na maioria dos novos modelos de organização que estão emergindo. Existem vários exemplos: os sites de financiamento colaborativo para causas sociais ou culturais (como o Catarse e o Benfeitoria); o The Hub que é criado de forma colaborativa e fomenta a colaboração na sua rede; e mesmo no processo de desenhar programas sociais que passam a integrar os beneficiários no processo de desenvolvimento do programa.

A colaboração é certamente um elemento essencial para promovermos um modelo de desenvolvimento que gere resultados para todos e inclua as pessoas no processo de transformação, fazendo de todos nós agentes de mudança e não mais expectadores.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Infográficos Negócios Sociais

Em um post anterior já mencionei alguns desses dados, mas achei muito interessante o post do Rafael Avila com os infográficos sobre a pesquisa de negócios sociais realizada pelo Polo Ande, Potencia Ventures, Avina e Plano CDE.

Essas informações demonstram que embora ainda incipiente o campo de negócios sociais já existe no Brasil e baseado nos relacionamentos que eu possuo com atores neste campo percebo que esses números já devem ter evoluído após a realização dessa pesquisa.

Recentemente estive na Inglaterra em reuniões do Hub e fica bastante claro que ainda temos muito o que evoluir neste campo, principalmente, com estruturas legais e um marco jurídico que viabilizem modelos híbridos como as Community Interest Companies (CIS) que permitem a participação acionária do governo, de investidores e de empreendedores numa mesma pessoa jurídica.

Essa é uma oportunidade para advogados que queiram se aprofundar no tema e apostar em um campo em crescimento!


Mapeamento de Negócios Sociais no Brasil
Blog LUZ - Loja de Consultoria

segunda-feira, 2 de abril de 2012

O que é inovação social?


Há algum tempo venho escrevendo sobre conceitos que vão um pouco além de negócios sociais. Essas ideias podem ser classificadas como inovações sociais, sendo que os negócios sociais são uma das formas de inovação social. Portanto decidi alterar o título do blog para Inovação Social e Desenvolvimento.

Mas afinal o que é inovação social? Como em todos os novos temas existe bastante discussão e pontos de vista diferentes sobre a definição do conceito. Neste blog assumirei uma decisão mais simples e ampla que inclui todas as inovações que geram impacto socioambiental positivo. Essa definição proposta é baseada na definição de inovação de Schumpeter e que foi aperfeiçoada por outros acadêmicos. O conceito pode ser descrito da seguinte forma: uma ideia implementada para um novo produto, serviço, processo ou sistema que gere transformação social positiva.

Existem autores que definem inovação social como atividades e serviços inovadores que são motivadas para atender uma necessidade social e que são desenvolvidas e difundidas por organizações com fins sociais, mas na minha visão isso pode limitar o conceito (Mulgan et al, 2007). Para mais detalhes sobre o conceito e discussão sobre o tema recomendo acessarem o site: http://www.socialinnovationexchange.org/

Sendo assim, continuarei escrevendo sobre negócios sociais, mas também pretendo trazer experiências de outras inovações sociais que têm contribuído para gerar transformações sociais positivas.

Um exemplo prático que citei no último post é a parceria entre organizações dos três setores para, juntas, gerarem mais valor para a sociedade. Essa forma colaborativa de trabalhar é uma mudança importante em relação a forma dos três setores atuarem isoladamente. O diálogo entre os setores para cocriar estratégias conjuntas tem potencial para gerar inovações sociais que vão mudar a nossa forma de trabalhar e atuar na sociedade. Para isso espaços como o The Hub e outras iniciativas que integrem diversos perfis para buscar soluções de desafios socioambientais são fundamentais para a geração de inovações sociais.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Joint Venture Social


A Tekoha, uma empresa social Brasileira, tem trabalhado muito nos últimos 5 anos para promover a geração de renda em comunidades. Neste tempo testamos alguns modelos de negócios e percebemos que para alcançar nossa visão será necessário integrar os três setores.

Para concretizar essa estratégia de integração dos três setores estamos realizando uma “joint venture” social (mais detalhes: http://catr.se/w8mARy) com o Artesol, organização da sociedade civil fundada há 12 anos pela Dra. Ruth Cardoso. 

Uma “joint venture” é um empreendimento conjunto criado por duas empresas com fins lucrativos e que termina após atingido os objetivos desse empreendimento. No caso da “joint venture” social trata-se de um empreendimento conjunto com um fim social (ampliar a geração de renda das comunidade e promover a cultura e o desenvolvimento local). Como o objetivo é ambicioso e temos ainda muito trabalho pela frente é uma união que não tem data para acabar. Nossa primeira meta é alcançar a marca de R$1.500.000,00 em geração de renda direta nos próximos 3 anos. Para isso precisamos também do apoio de organizações governamentais e estamos negociando algumas parcerias.

A “joint venture” social é mais uma inovação da Tekoha e do Artesol para aumentar nossa eficiência e gerarmos mais impacto social. É um grande desafio e para isso além dos três setores juntos precisamos da participação de todos, seja com ideias ou com pequenos investimentos (http://catr.se/w8mARy).

Este vídeo mostra um exemplo de uma comunidade da rede:

Crowdfunding Tekoha ArteSol from Marina Russo on Vimeo.

Inovações sociais como essa são resultado da busca por soluções para os desafios socioambientais utilizando ferramentas, modelos e ideias de diversos setores da sociedade. Ao transpormos as barreiras entre os setores podemos criar novos modelos de organização e sistemas socioeconômicos que tragam mais prosperidade para todos.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Expansão Internacional de Negócios Sociais - a experiência do The Hub


No início do ano fui a Índia para levar a experiência do The Hub no Brasil e ver como poderíamos apoiar as iniciativas de Hubs na Índia. Junto comigo estavam duas pessoas (um alemão e uma romena) que atuam na Hub Company, organização responsável por prover serviços a rede de Hubs.

Durante o workshop que realizamos para mais de 40 pessoas interessadas em iniciar Hubs na Índia observei como brasileiros têm maior facilidade de criar empatia com os indianos, talvez por termos realidades mais próximas. Definitivamente a cooperação sul-sul, termo utilizado para nomear a cooperação entre países em desenvolvimento, tem um papel fundamental na expansão dos negócios sociais. Além de contar com realidades similares (mesmo sabendo das diferenças) temos maior facilidade de criar empatia entre nós e não carregamos um passado de relações conflituosas.

No evento ficou claro como é importante convidar as pessoas para empreenderem junto uma rede global ao invés de “vender” a rede para eles. Em princípio, as pessoas têm certa resistência a ideia de pagar alguma taxa para uma rede global, pois não queremos reproduzir o modelo de franquias. No entanto, nesse caso os Hubs locais são co-proprietários da entidade global e, portanto, você paga para sua própria organização e contamos com um modelo de governança que permite a participação de todos. Esse modelo de governança está sendo fundamental para a rede de Hubs expandir nessa velocidade, somos 26 Hubs e 14 iniciativas (que se tornarão Hubs nos próximos 12 meses) em apenas 6 anos.

Conhecemos muitos atores do mercado de negócios sociais na Índia que são bastante inspiradores para o Brasil. Um deles é o Intellecap, que provê consultoria, conhecimento e tecnologia para negócios sociais. Outro ator relevante é a Dasra, que tem um programa de aceleração de empreendimentos sociais e negócios sociais. A Villgro também contribui bastante com o setor, identificando e incubando iniciativas que contribuem para o desenvolvimento rural. E esses são só alguns dos atores no campo de negócios sociais no país.

Estamos animados com a possibilidade de emergirem vários Hubs na Índia. O país tem um dos ecossistemas mais vibrantes no mundo para negócios sociais e muitos desafios pela frente. A pobreza na Índia (abaixo de US$1,25 por dia) não tem diminuído nos últimos anos e certamente todos os setores precisam contribuir para este processo de redução da pobreza no país. O desafio na Índia é crescer com maior igualdade, pois no momento vemos um processo de enriquecimento das classes mais altas, mas os mais pobres ainda não estão acessando os benefícios do crescimento econômico do país.