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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Joint Venture Social


A Tekoha, uma empresa social Brasileira, tem trabalhado muito nos últimos 5 anos para promover a geração de renda em comunidades. Neste tempo testamos alguns modelos de negócios e percebemos que para alcançar nossa visão será necessário integrar os três setores.

Para concretizar essa estratégia de integração dos três setores estamos realizando uma “joint venture” social (mais detalhes: http://catr.se/w8mARy) com o Artesol, organização da sociedade civil fundada há 12 anos pela Dra. Ruth Cardoso. 

Uma “joint venture” é um empreendimento conjunto criado por duas empresas com fins lucrativos e que termina após atingido os objetivos desse empreendimento. No caso da “joint venture” social trata-se de um empreendimento conjunto com um fim social (ampliar a geração de renda das comunidade e promover a cultura e o desenvolvimento local). Como o objetivo é ambicioso e temos ainda muito trabalho pela frente é uma união que não tem data para acabar. Nossa primeira meta é alcançar a marca de R$1.500.000,00 em geração de renda direta nos próximos 3 anos. Para isso precisamos também do apoio de organizações governamentais e estamos negociando algumas parcerias.

A “joint venture” social é mais uma inovação da Tekoha e do Artesol para aumentar nossa eficiência e gerarmos mais impacto social. É um grande desafio e para isso além dos três setores juntos precisamos da participação de todos, seja com ideias ou com pequenos investimentos (http://catr.se/w8mARy).

Este vídeo mostra um exemplo de uma comunidade da rede:

Crowdfunding Tekoha ArteSol from Marina Russo on Vimeo.

Inovações sociais como essa são resultado da busca por soluções para os desafios socioambientais utilizando ferramentas, modelos e ideias de diversos setores da sociedade. Ao transpormos as barreiras entre os setores podemos criar novos modelos de organização e sistemas socioeconômicos que tragam mais prosperidade para todos.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Um Novo Olhar para a Geração de Renda

O tema do trabalho e da geração de renda costuma ser abordado com uma perspectiva de escassez de recursos. A premissa é que comunidades de baixa renda tem poucos recursos para melhorar sua qualidade de vida.

O trabalho que realizo na Tekoha e as iniciativas do Instituto Elos trazem uma nova premissa: existe abundância de recursos na comunidade, o desafio é criar uma nova economia com modelos de negócios comunitários que gerem prosperidade e criem um fluxo positivo de riquezas.

A geração de renda deve ser um resultado natural ao empregarmos nosso trabalho e conhecimento em atividades demandadas pelas pessoas da nossa comunidade e da sociedade. O fluxo de renda pode estar bloqueado pela falta de um modelo de negócios que disponibilize nossos talentos para um público que precise dos nossos serviços e possa remunerar o trabalho. Muitas vezes, as comunidades empregam seus talentos em produtos e serviços pouco valorizados (serviço doméstico, panos de prato…), mas esses mesmos talentos (servir com qualidade e trabalhos artísticos) podem ser aplicados para produtos mais valorizados (guia de programas de ecopedagogia e brinquedos artesanais de alto padrão). Essas mudanças podem ser realizadas e já estão ocorrendo em várias comunidades.

Estamos realizando um projeto piloto com a comunidade da Juréia para colocar em prática a ideia da Re-evolução, que faz parte da metodologia do Elos. A intenção é desenvolvermos princípios, metodologias e ferramentas que possam ser úteis para outras comunidades criarem um ciclo de prosperidade. O trabalho é estruturado em três eixos: eixo sociocultural, socioambiental e socioeconômico, o desenvolvimento de cada um desses eixos está gerando conhecimento sobre os ativos da comunidade (conhecimento ambiental, técnicas de manejo sustentável, técnicas artesanais, atrativos para programas de ecopedagogia, entre outros).

A partir desses ativos estão sendo criados negócios comunitários como programas de ecopedagogia para escolas e público geral, marcenaria para confecção de brinquedos infantis de alto padrão, comercialização de madeira certificada, espaço para festas e eventos culturais. Esses negócios serão conectados para explorar as sinergias existentes e criar um ecossistema de negócios que nutrem as relações comunitárias, fortalecem a cultura local e preservam os recursos naturais da região.

Uma iniciativa interessante que pode ser somada ao processo da Juréia, citado acima, é o banco comunitário. Esta tecnologia social desenvolvida pelo Banco Palmas no Ceará demonstra, na prática, como as comunidades têm abundância de muitos recursos, mas muitas vezes o sistema econômico não permite que ela os utilize da melhor forma. Assumindo que as comunidades sempre possuem recursos, mas, muitas vezes, eles não permanecem na comunidade, o banco comunitário cria um sistema que incentiva a realização de gastos e investimentos na própria comunidade. A moeda local também fortalece a identidade da comunidade e eleva a autoestima, além dos benefícios econômicos de manter mais recursos dentro da comunidade.

Para trazer essa reflexão para o nosso dia-a-dia é importante avaliarmos onde estamos investindo os nossos recursos e como podemos beneficiar a redistribuição de renda ao comprarmos, viajarmos e investirmos com mais consciência.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Como os negócios sociais podem contribuir com o desenvolvimento e a erradicação da pobreza no Brasil?



Os negócios sociais buscam em última instância erradicar a pobreza e promover o desenvolvimento. Para buscar esses objetivos é importante primeiramente mapearmos a pobreza e, posteriormente (num próximo post), definirmos desenvolvimento.

A tabela abaixo demonstra que a pobreza está claramente concentrada nas regiões norte e nordeste (ainda mais se medida em relação a população total de cada região). Essa tabela elenca as pessoas com renda per capita de até R$70 (um pouco acima da linha internacional da pobreza que seria US$1.25 ao dia).



Total Pessoas
%
Urbano
Rural

Pessoas
%
Pessoas
%
Brasil
16.267.197
100
8.673.845
53
7.593.352
47
Norte
2.658.452
17
1.158.501
44
1.499.951
56
Nordeste
9.609.803
59
4.560.486
48
5.049.317
52
Sudeste
2.725.532
17
2.144.624
79
580.908
21
Sul
715.961
4
437.346
61
278.615
39
Centro-Oeste
557.449
3
372.888
67
184.561
33
  Fonte: Plano Brasil Sem Miséria

De acordo com estudos que realizamos de negócios sociais na África (principalmente no Quênia) e na Índia, poucos negócios sociais conseguem de fato atingir essa camada mais pobre diretamente. O Kickstart, um negócio social no Quênia (e em outros países do leste Africano), que desenvolve bombas de irrigação para aumentar a produtividade dos pequenos agricultores, não atinge a camada mais pobre da população. Isso não quer dizer que o negócio não contribui para a redução da pobreza, pois ele atinge pessoas muito pobres (mas em sua maioria acima da linha da pobreza internacional) e essas pessoas podem vir a empregar os mais pobres.

Ainda não temos números para avaliar com maior precisão se o mesmo ocorre com os negócios sociais Brasileiros. Para isso, deveria ser feito uma pesquisa junto a essa população mais pobre beneficiada pelos negócios. Pelo que observamos no exterior somado ao mapeamento dos negócios sociais no Brasil, acreditamos que provavelmente a maioria deles deve atingir as pessoas com renda per capita entre R$ 70 e R$ 200. Dificilmente negócios que vendem produtos e serviços (os negócios inclusivos podem atingir um pouco mais essa população) atingem as pessoas abaixo da linha da pobreza, que vivem com menos de R$ 70 hoje, e são 16 milhões de brasileiros.

Esse fenômeno pode se dar por algumas razões. Primeiro, é importante segmentar esta categoria de até 2 salários mínimos, pois este universo compreende muitas diferenças, por exemplo, está nele a população de 16 milhões de brasileiros abaixo da linha da pobreza, mas também pessoas com renda per capita de R$200. Além disso, muitas vezes essas pessoas são excluídas dentro de suas próprias comunidades, que já têm uma renda bastante baixa. Na Tekoha trabalhamos com comunidades de baixa renda e observamos que muitas vezes algumas pessoas dentro das comunidades não têm tantas oportunidades como outras e numa análise mais superficial classificaríamos todas elas num mesmo segmento de população de baixa renda.

Outra dificuldade para os negócios sociais atingirem essa população é que ela se concentra nas regiões norte e nordeste (76% da pobreza extrema) e nessas regiões, principalmente no interior, o Brasil possui baixa densidade populacional, muitas vezes, com acesso bastante limitado. Isso impede a criação de modelos de negócios financeiramente viáveis para vender diretamente a essa população e dificulta a participação dessas pessoas em negócios que buscam incluí-las em sua cadeia produtiva. Esse cenário é diferente na Índia, por exemplo, que possui um volume imensamente maior (em torno de 440 milhões enquanto no Brasil são 16 milhões) de pessoas abaixo da linha da pobreza. Numa visita a negócios sociais na Índia, ficou claro que densidade populacional é um critério fundamental para um negócio viabilizar-se financeiramente em sua região. O volume de vendas é muito relevante para a viabilidade econômica do negócio que opera com margens mais baixas para tornar os produtos/serviços mais acessíveis.

Outro desafio é a capacidade dessa população adquirir os produtos ou serviços. A maioria dos negócios visitados na Índia eram muito pragmáticos, tinham consciência que não conseguiam atender a população mais pobre, pois estes não tinham recursos mínimos para participarem do mercado consumidor, mesmo com produtos mais acessíveis. Este desafio tem duas soluções já bem desenvolvidas, ou o negócio social opera com uma precificação de acordo com a capacidade de compra, por exemplo, oferecendo gratuitamente para aqueles que não conseguem adquirir, como é o caso do “Aravind EyeHospitals”. Negócios social que surgiu na Índia oferecendo cirurgias de catarata num processo extremamente inovador. Outro caminho é o caso de alguns bancos de microcrédito na Índia e Bangladesh que têm desenvolvido programas de proteção social em parceria com o governo para trabalhar de forma não lucrativa com essa parcela mais pobre da população (é o caso da BRAC em Bangladesh). Entre outras soluções viáveis que não onerem o negócio social que são e poderiam ser desenvolvidas.

Para erradicar a pobreza acreditamos que o papel das políticas sociais é fundamental e os negócios sociais podem contribuir no processo criando oportunidades para os próximos passos dessas pessoas, que após terem uma renda mínima precisam de oportunidades para crescer, se desenvolverem e colaborarem no desenvolvimento de suas comunidades.

Acreditamos que o mapeamento de negócios sociais/inclusivos foi um excelente passo rumo a compreender este campo no Brasil. Nos próximos estudos seria interessante pesquisarmos mais sobre o público atendido pelos negócios sociais. Dessa forma, poderemos entender melhor o papel dos negócios sociais no processo de redução da pobreza e promoção da justiça social e do desenvolvimento sustentável no país. 

Escrito por Carolina de Andrade (@andradecarol) e Henrique Bussacos (@hbussacos)

domingo, 1 de maio de 2011

Governança dos Negócios Sociais


Quando o movimento de negócios sociais começou de forma mais concreta no Brasil em 2006/2007, discutia-se muito os modelos de governança das organizações. Com a dificuldade de viabilizar financeiramente as empresas sociais essa discussão ficou em segundo plano. Uma decisão inteligente, pois não era muito útil colocar vários critérios para reconhecer uma organização como negócio social se ela fosse existir apenas  por um ou dois anos. A Artemisia acompanhou este processo com vários dos empreendimentos apoiados.

No entanto, com a evolução das empresas sociais a governança volta a ser relevante. Um modelo de governança adequado contribui para o negócio não perder o foco no impacto socioambiental. O desafio é que o modelo de governança não depende da vontade de uma ou duas pessoas. A governança é determinada pelas relações de poder entre os públicos de interesse e isso é um processo dinâmico que deve ser pensado e construído desde o início da organização (mesmo não sendo o foco nos primeiros anos). A governança compreende os processos, as políticas e a estrutura de tomada de decisão de uma instituição.

Os modelos disponíveis no mercado para pensar em governança são muito limitados. Mesmo quando buscam envolver mais os outros públicos de interesse, as relações entre eles ainda são presas em paradigmas antigos, como a ideia de que os investidores devem ter mais poder. A Natura é um exemplo de uma empresa que procura criar relações diferenciadas com seus públicos, entretanto pelo tamanho e cultura da organização é muito difícil implementar um modelo mais participativo.

Os negócios sociais têm a oportunidade de criar modelos mais ousados de governança, pois já nascem com um novo DNA ligado a valores de co-criação, colaboração e participação. Mesmo que no início a organização foque em viabilizar sua operação financeiramente é importante começar a desenvolver um modelo de governança, pois isso no futuro pode ser decisivo para a continuação da empresa. Mais uma vez, o desafio dos negócios sociais é criar um paradigma mais equilibrado, que não seja lento e complicado como algumas associações, nem autoritário e desigual como algumas empresas. A equação é desenvolver uma governança participativa com uma gestão ágil, que entregue os resultados socioambientais prometidos.

Definitivamente, não é uma tarefa fácil. Na Tekoha temos tentado construir esse modelo e continuamos com muitos desafios (é bom lembrar que mesmo as organizações com o modelo “padrão” de governança estão com muitos problemas). Atualmente nos organizamos nos seguintes grupos: (i) as comunidades que são os fornecedores da Tekoha (cooperar com essas comunidades é a razão de ser da Tekoha); (ii) os clientes formado por pessoas físicas (varejo) e médias e grandes empresas (atacado); (iii) os colaboradores que operam e gerenciam a organização com autonomia; (iv) os sócios, grupo formado por colaboradores ou ex-colaboradores da organização; (v) o conselho consultivo, formado por experts em áreas relevantes para a Tekoha; e (vi) o conselho dos investidores que têm participação nos resultados de longo prazo da empresa (mas sem poder deliberativo). Desde o início tentamos implementar vários modelos participativos e a maioria falhou, mas continuamos buscando forma inovadoras de fazer a governança e a gestão da organização. Acreditamos que a busca por um modelo novo, já cria uma cultura diferente e mais participativa. Um sonho que temos é envolver algumas comunidades no nosso conselho ou criar um conselho das comunidades. No início isso parecia impensável, mas agora começamos a criar estruturas e parcerias que podem nos ajudar a implementar esse modelo no futuro.

No The Hub Internacional passamos por várias mudanças até chegar em uma estrutura mais participativa. Atualmente existe uma associação formada por todos os Hubs no mundo (20+) que é controladora de uma empresa que atua como “franqueadora” dos Hubs, prestando serviços, criando processos e facilitando a cooperação entre os Hubs. Dessa forma invertemos a lógica e os “franqueados” passaram a ser donos e controlar o “franqueador”. Estou usando estes termos franqueado e franqueador como referência, mas acreditamos que o modelo que estamos criando é novo e com isso novos nomes surgirão no futuro.

Não acredito numa resposta pronta ou um modelo a ser replicado. O desafio é criar modelos de governança e gestão ágeis que potencializem a participação de todos os públicos de interesse e estejam focados na geração de impacto socioambiental positivo.

Você conhece mais modelos de governança em negócios sociais? Compartilhe por aqui nos comentários.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Parcerias entre os Setores


Os negócios sociais podem ficar restritos a mais um setor na sociedade ou criar oportunidades mais concretas de parcerias com outros setores para alcançar objetivos que beneficiem a sociedade. Neste blog já comentei sobre a relevância de visualizarmos os negócios sociais como um movimento para reduzir as barreiras entre os setores ao invés da criação de mais um setor.

Hoje pretendo explorar oportunidades de cooperação entre os negócios sociais e os programas sociais do governo. Aqui estou apenas colocando algumas ideias, mas muito mais pode ser desenvolvido a partir da integração dos setores, acredito que as grandes inovações sociais virão justamente dessa mistura de ideias, estruturas e estratégias.

O programa Bolsa Família, por exemplo, embora muito criticado por alguns formadores de opinião, quando analisado mais profundamente verificando diversas pesquisas provou-se bastante efetivo na redução da pobreza, contribuição no investimento em educação e saúde e fomento do desenvolvimento econômico local. A busca atual deve considerar, além da melhoria constante na qualidade e abrangência do programa, mais oportunidades para as pessoas manifestarem seus talentos e participarem do desenvolvimento socioeconômico do país.

Seria possível integrar negócios sociais em estratégias do poder público de promover a inclusão produtiva? O termo inclusão produtiva é o mais comum, mas vejo mais sentido na ideia de criar oportunidades de geração de renda, sejam elas no mercado formal, criando cooperativas, empreendendo negócios ou participando ativamente de organizações da sociedade civil.

Muitos negócios sociais e organizações da sociedade civil têm mostrado grande potencial em contribuir para a inclusão de milhares de pessoas em cadeias produtivas mais justas e sustentáveis. A Tekoha, o ArteSol, a Mundaréu e a Solidarium têm contribuído para a geração de renda em mais de 150 comunidades no Brasil. O Sementes de Paz inclui muitos pequenos produtores numa cadeia de comércio justo de alimentos orgânicos. O Banco Pérola concede crédito a jovens empreendedores em Sorocaba. Essas iniciativas ainda são relativamente pequenas, quando consideramos o número de famílias envolvidas no Bolsa Família (em 2011 deve-se chegar a 13 milhões de famílias), mas outras iniciativas estão emergindo em todo o país.

Com um olhar mais sistêmico podemos identificar várias oportunidades de cooperação entre os negócios sociais e programas sociais. Ao concentrarmos o foco na redução da pobreza e criação de oportunidades de geração e distribuição de riqueza para as pessoas de baixa renda, podemos ir além da separação entre os tipos de organização. As parcerias público-privado ainda foram pouco exploradas e é possível desenvolver essas parcerias não apenas pensando em grandes organizações, mas também em redes de pequenas organizações que contribuem profundamente para o desenvolvimento socioeconômico do país.

Se você conhecer iniciativas de parcerias como essas compartilhe por aqui! Quem quiser conhecer uma organização que está promovendo essas parcerias, visite o site do Instituto Papel Solidário que está fazendo grandes esforços para promover essa integração entre os setores, por exemplo.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Como se envolver com um Negócio Social?


Muitas pessoas têm se interessado pela ideia de negócios sociais. Alguns veem neste movimento um ‘caminho do meio’ entre o segundo e o terceiro setor. Outros acreditam que só dessa forma conseguirão se realizar e gerar um impacto profundo na sociedade, pois o modelo integra os aspectos socioambientais a um modelo economicamente viável. E algumas pessoas são mais céticas ou não entendem muito bem qual é a diferença de um negócio social em relação a um negócio ou a uma organização da sociedade civil.

Estas percepções variadas vão gerar diferentes interações com os negócios sociais. Existem aqueles que decidirão ‘mergulhar de cabeça’ nessa ideia e de fato empreender ou trabalhar num negócio social. Outros procurarão saber mais e interagir com esses novos modelos de negócios. E alguns criticarão a ideia de integrar os aspectos socioambientais a viabilidade econômica, considerando-os incompatíveis.

Com a maior visibilidade do campo no Brasil, agora o objetivo é envolver mais gente nessa rede. Precisamos de mais pessoas trabalhando nos negócios sociais não só em novos modelos, mas também contribuindo para os modelos que já existem. Neste link é possível identificar algumas oportunidades para isso: http://dretrivelli.wordpress.com/oportunidades-para-praticar/, dentre elas uma oportunidade na Tekoha. Também buscamos mais pessoas interessadas em pesquisar, investir, divulgar, questionar e se tornarem clientes de negócios sociais.

Acredito que a melhor forma de começar algo é sempre fazer e experimentar. Antes de criar teorias em torno do que é certo e errado nos negócios sociais ou buscar respostas para os desafios que o campo enfrenta no Brasil e no mundo, passar um dia com um time que esteja empreendendo um negócio social, ajudar num projeto específico ou mesmo trabalhar integralmente para o negócio é a melhor forma de compreender o que existe de novo nessas organizações e os desafios que elas enfrentam no dia-a-dia.

Atualmente, já existem vários tipos de organizações diferentes que apresentam oportunidades para diversos perfis: organizações que trabalham com geração de renda, como a Tekoha; com fundo de investimentos, como o Instituto Ventura, a Vox Capital e a Sitawi; com financiamento para educação, como a Savanza; com colaboração, como o The Hub, que além de São Paulo está começando em Belo Horizonte e Curitiba; com apoio técnico, como a Artemisia e a Quintessa; com cultura, como A Banca e a Feira Preta; com turismo, como a Aoka; com serviços ambientais, alimentos orgânicos, gastronomia, como a Gastromotiva, a Sementes de Paz e a Ecossistemas...Entre muitos outros negócios. Para conhecer mais exemplos visite o site da Artemisia e para se entusiasmar e começar já, veja os primeiros passos da turma do Hub Belo Horizonte, fazendo acontecer!



quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Exuberância irracional nos negócios sociais?


Quatro anos atrás lembro de estar numa reunião com a Leila Novak do Instituto Papel Solidário e com o Pablo Handl do The Hub. Estavamos discutindo como poderíamos fazer um contrato social de um negócio social no Brasil, já que não tínhamos referências ainda no país.

Nesses quatro anos o campo vem crescendo e ganhando reconhecimento com um trabalho grande de apoio e disseminação do conceito pela Artemisia e outros apoiadores desse setor no país. Embora acredite profundamente no potencial desses novos negócios na redução da pobreza e na melhoria da qualidade de vida das pessoas, não acredito em uma única solução para os problemas que temos no mundo. E tenho visto muitas vezes os negócios sociais sendo citados como 'a' solução, principalmente por pessoas que estão distantes do dia-a-dia da gestão de um negócio que interage diretamente com a pobreza e das comunidades impactadas pelos negócios.

Os negócios sociais têm demonstrado resultados promovendo a geração de renda e oportunidades para pessoas excluídas. Alguns exemplos são: a Solidarium comercializando produtos artesanais para grandes varejistas, a Gastromotiva capacitando jovens de baixa renda para empreenderem negócios gastronômicos, o Banco Pérola realizando empréstimos para jovens empreendedores em comunidades de baixa renda, a Tekoha comercializando brindes corporativos de comunidades excluídas entre outros. No entanto, existem raros exemplos de negócios sociais resolvendo outros problemas sociais não relacionados a geração de renda.

As pessoas e a mídia, que agora está compreendendo melhor o conceito de negócio social, costumam buscar ‘a’ solução para os problemas do mundo. E os negócios sociais trazem uma proposta bastante tentadora: ‘mude o mundo ganhando dinheiro’. No entanto, as pessoas que trabalham nos negócios sociais no Brasil sabem que essa proposta é factível, mas muito desafiadora e longe de estar consolidada. Na Europa e nos Estados Unidos, como o campo de negócios sociais já está mais evoluído, algumas pessoas já apresentam um olhar mais crítico sobre o dogma de que os métodos de mercados podem resolver todos os problemas, inclusive a pobreza. Ainda mais depois de terem passado pela última crise financeira de 2008/09.

Os negócios sociais são uma importante ferramenta para somar aos esforços das organizações da sociedade civil, do governo e dos trabalhos de responsabilidade corporativa das empresas. Eles não são ‘a’ solução, mas sim uma solução inovadora que pode contribuir muito na construção de um mundo melhor.

Este mês escrevi um ‘paper’ sobre a relevância dos negócios sociais para o desenvolvimento social e econômico. Analisando um caso estudado com mais profundidade: a KickStart (organização que comercializa bombas de irrigação para agricultura familiar em países da África). Fica claro que esta organização contribui muito para a redução da pobreza, mas ela não chega até os mais pobres (índice de extrema pobreza definido como 50% da linha da pobreza). Outros casos no Brasil, com menos dados para fazer afirmações, demonstram o mesmo, na maioria das vezes, eles não atingem os indivíduos em pobreza extrema. Isso também ocorre nas microfinanças que visam lucro, como os muito pobres apresentam maior risco, menores empréstimos e menor rentabilidade, as microfinanças que visam um maior retorno sobre seus ativos, costumam focar nos pobres, mas não atingem os muito pobres. Existem exceções como o Grameen Bank e a BRAC em Bangladesh que não visam lucro, mas são negócios sociais e atingem os extremamente pobres.

Se quiser mais detalhes sobre essas análises é só baixar o ‘paper’ em inglês, clicando aqui (após clicar, para fazer o download gratuito - comum - é só aguardar alguns segundos).

domingo, 5 de dezembro de 2010

Engajando Todos os Setores


No meu primeiro trabalho acadêmico na área de desenvolvimento escrevi sobre a importância de engajar todos os setores para promover o desenvolvimento socio-economico. Nesta área discute-se muito qual o ator mais relevante, se é a ajuda internacional, as empresas, o governo ou as organizações da sociedade civil.

No meu ponto de vista faltam atores que busquem o consenso, que compreendam as lacunas e criem organizações/projetos/estratégias para preencher esses espaços. Foi assim que emergiu a Tekoha, ao perceber que o governo, as ONGs e as empresas não estavam conseguindo ampliar a geração de renda de Urucureá no Pará, criou-se um negócio social. A Tekoha é uma empresa social e neste caso vem preenchendo esta lacuna, mas o trabalho do Projeto Saúde Alegria, do Projeto Bagagem, do governo e das empresas e da ajuda internacional financiando esses projetos é fundamental para o desenvolvimento da comunidade.

Não existe o melhor ator, mas sim a necessidade desses vários atores trabalharem em conjunto e sempre voltados a servir as necessidades das comunidades e não agendas ocultas. Esse é um dos grandes desafios do desenvolvimento e da redução da pobreza, como engajar os vários atores da sociedade nessa causa? É importante que os atores sejam reconhecidos e que a estratégia conjunta seja focada na melhoria da qualidade de vida das pessoas, mas acomode os interesses de cada ator.

Para alcançar esses resultados é importante utilizar habilidades Políticas visando assegurar que os atores realmente favoreçam o desenvolvimento humano das comunidades. O P maiúsculo é vital, pois essa mesma ação de engajamento pode estar servindo a interesses mesquinhos, como muitas vezes acontece na política local. No entanto, também não adianta ignorar que esses atores possuem seus interesses, o desafio é conciliar esses interesses e manter o desenvolvimento da comunidade como um objetivo maior.

É possível construir relações em que todos ganhem. Quando a Tekoha identificou o nicho de mercado dos brindes sustentáveis, ela encontrou uma forma da comunidade ganhar ao gerar sua própria fonte de renda e as empresas ficarem satisfeitas em dar brindes a clientes, colaboradores e parceiros alinhados a princípios de sustentabilidade.

Um outro exemplo de negócio social que vem engajando vários setores é o KickStart na África que vende bombas de irrigação para pequenos fazendeiros. Eles conseguiram criar uma ‘indústria’ com vários atores empresariais para fabricar e comercializar essas bombas de irrigação, recebem recursos de assistência internacional e mobilizaram atores que trabalham com micro-finanças para financiar a compra dos pequenos fazendeiros. Essa ferramenta aumenta em 500% a produtividade desses pequenos fazendeiros e eles conseguem escapar do ciclo de pobreza.

Estes exemplos estão aumentando e mais oportunidades estão aí, basta não se prender a uma visão única de como podemos melhorar a vida das pessoas e pensar que todos os atores podem contribuir de alguma forma, cada um a seu modo.

Se quiser ler o trabalho completo em inglês clique aqui.

domingo, 17 de outubro de 2010

Um novo setor ou o fim da barreira entre os setores?

Por que criar mais um setor? O setor 2,5 pode ser mais um setor ou acabar com a necessidade de dividir a atuação da sociedade em setores.

Essa pergunta me faz pensar porque começaram a emergir organizações híbridas, que não são nem empresas (ao menos não como as que dominam o mercado atualmente) nem organizações da sociedade civil. A resposta para mim ainda não é clara, mas a minha experiência na Tekoha traz algumas ideias.

Quando começamos a Tekoha, foi porque nem as organizações sociais, nem as empresas e nem o governo estavam conseguindo resolver o escoamento de produtos artesanais de comunidades brasileiras (mas tarde percebemos que este não era um desafio apenas no Brasil). As organizações sociais tinham boas intenções, mas pouco conhecimento de mercado ou mesmo foco nessa atividade. As empresas até gostariam de ajudar, mas seu modelo de negócio não foi desenhado pensando em lidar com uma cadeia produtiva com várias unidades espalhadas pelo país produzindo em pequena escala. O governo tem vários programas para tentar atender essa necessidade, mas pouca agilidade.

A incapacidade dos atuais três setores lidarem com alguns desafios da sociedade acaba gerando mais um setor, ou uma mistura do setor dois e três (conhecido como dois e meio). No entanto, é importante que nos desprendamos da separação por setores e comecemos a pensar no desenho de organizações sob-medida para resolverem os desafios da sociedade atual.

Os negócios sociais criam a oportunidade de nos libertarmos da classificação das organizações em 'caixinhas' e visualizarmos a rede de organizações com características diferentes necessárias para enfrentarem os problemas sociais e ambientais que estamos vivendo.

Ao integrarmos nosso ser econômico e nossas outras dimensões, como frizou o Yunus, temos a oportunidade de agirmos de forma integral na sociedade e construirmos uma realidade menos fragmentada. Os setores são apenas uma forma de classificar as organizações para estudos e políticas, mas não deveriam ser grupos de organizações e pessoas que vivem alienadas ou discutindo umas com as outras. Muito pelo contrário, elas deveriam trabalhar juntas para inovar.

Foi assim que surgiu outro negócio social que estou envolvido o The Hub. Este escritório foi desenhado para integrar os setores e não para criar mais um setor. Por isso quando escrevo sobre negócios sociais estou me referindo a uma mistura que faz sentido para mim e muitas pessoas, um pouco do segundo e do terceiro setor.

Vejo nos negócios sociais uma nova forma de servir e não uma nova forma de fazer negócios, já que o propósito das organizações é enfrentar desafios sociais e ambientais e o negócio é o meio, assim como o lucro. Espero que o setor 2,5 seja mais uma mistura de muitas outras que serão desenvolvidas pela criatividade de muitas pessoas que querem construir uma sociedade melhor para Todos.

sábado, 10 de julho de 2010

Ampliando a visão do indivíduo para a comunidade

Estou apoiando a capacitação de um grupo de costureiras em São Bernardo do Campo. Este grupo como muitas das comunidades parceiras da Tekoha trabalham com lógicas econômicas diferentes das empresas "convencionais".

Nosso modelo socio-economico é baseado na meritocracia e na competição. Nada contra o modelo, em princípio, mas ao trabalhar de perto com comunidades fico me questionando, qual o destino de algumas pessoas com capacidade motora e de raciocínio menores do que de outras? Para onde uma pessoa que não consegue se adequar a uma cooperativa oriunda de um projeto social poderá ir?

Quando esse assunto é dialogado em teoria, é fácil dizer, que cada pessoa tem um talento e que deve encontrar seus talentos e aplicá-los a serviço da sociedade. No entanto, muitas vezes essas pessoas tiveram experiências de vida traumáticas que reduziram sua capacidade de lidar com as emoções e com a razão. Por isso, acredito que cada comunidade, cada grupo deve encontrar sua vocação e acolher alguns indíviduos que podem não ser os mais produtivos, mas o seu valor não se limita a sua capacidade produtiva, ele como indíviduo tem valor intrínseco. A compaixão e a solidariedade das pessoas desses grupos devem fazer parte do nosso modelo economico, são valores essenciais para construirmos uma sociedade ética, que não exclui.

Essa visão do coletivo permite que mesmo as pessoas que tiveram menos oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional sejam incluídas na nossa sociedade e num modelo socio-economico-político. Quando reduzimos nossa visão para o indíviduo, limitamos nossa capacidade de incluir as pessoas, pois eles, sozinhos, não têm o apoio necessário para fazer parte do sistema. Entretanto, ao pensarmos em comunidades podemos contribuir com uma sociedade realmente inclusiva.

Modelos de desenvolvimento que excluam não são sustentáveis, pois terão elementos externos a ele que vão se manifestar mais cedo ou mais tarde. Precisamos de modelos de desenvolvimento que incluam todos os indíviduos, a natureza por mais complexos que eles fiquem. Temos que aprender a lidar com essa complexidade.

De quais comunidades você faz parte? Quem está sendo excluído e poderia ser incluído? Pode ser no nosso bairro, no grupo de amigos, nas nossas famílias...Não está aí uma das raízes de uma sociedade mais justa e sustentável?

terça-feira, 4 de maio de 2010

Couro vegetal vira tênis!

Começaram a produzir tênis para skatistas a partir de couro vegetal. O couro vegetal é fabricado através da extração de látex, como foi explicado na reportagem do Estadão - http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,couro-vegetal-vira-tenis-para-skatistas,544757,0.htm.

É importante que os materiais ecológicos comecem a ser produzidos em escala e apareçam em veículos de massa para deixarem de ser apenas alternativas para poucos, mas que comecem a ser opções acessíveis a um grande número de pessoas. No entanto, é importante atentar para não recriarmos mercados de massa que já se mostraram pouco sustentáveis, mesmo que a matéria-prima seja sustentável, pois o volume de produção acaba promovendo vários desequilíbrios socioambientais.

Em 2006, conheci Alciney em Maguari, uma comunidade próxima ao município de Santarém e ele contava da experiência deles com o couro vegetal. Agora essa tecnologia começa a ser utilizada em vários outros locais, o desafio é que esses modelos de negócio incorporem as comunidades na produção e na captação de valor na cadeia. Veja nessa reportagem do Mercado Ético detalhes sobre essa experiência na Amazônia: http://mercadoetico.terra.com.br/arquivo/viver-na-floresta-e-dela-retirar-o-sustento-com-responsabilidade-ambiental/

Modelos de negócio como os do Sementes de Paz, da Tekoha e da Aoka incluem as comunidades e pequenos produtores no modelo de negócio e ajudam a promover o desenvolvimento realmente sustentável dessas regiões.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Nosso Papel Social

Este fim de semana estive com um grupo de pessoas que estavam refletindo sobre seu papel social, como se engajar para resolver os problemas do país e do planeta? Qual é o meu papel nessa história?

Estive no encontro para compartilhar a minha experiência pessoal, mas essa reflexão foi ótima para mim também. Todos estamos num processo de busca para integrar nosso papel no mundo com as nossas paixões, talentos, hábitos, nossa postura como consumidores, pais, filhos, irmãos, nosso trabalho...Ao meu ver, essa integração é parte importante da solução dos nossos desafios internos e externos.

Fico contente das pessoas começarem a ver sua atuação social integrada a sua atuação profissional e pessoal. Projetos sociais que sejam desconectados da vida das pessoas, como um simples trabalho voluntário ou doação esporádicas, não modificam o sistema, agora ao integrar nossos talentos e paixões e colocá-los a serviço das pessoas e do planeta, podemos unir nossa realização pessoal com um impacto positivo no mundo.

Nos negócios sociais encontrei a integração dos meus talentos e paixões com problemas que o mundo enfrenta, a Tekoha materializou esse sonho. Se é o melhor caminho, o mais eficiente, o que tem mais impacto eu não sei, mas tem significado para mim e para outras pessoas que estão envolvidas e isso é o mais importante. 

As vezes, não sabemos por onde começar...Acredito que o auto-conhecimento e a mão na massa sejam ingredientes importantes! A tecnologia hoje disponibiliza informações de várias organizações que estão fazendo diferença no mundo, sempre divulgo os vídeos da Elo Sustentável por exemplo, que contam histórias muito interessantes.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Comunidades do Rio Arapiuns

Na 2a feira, 29/03, o Núcleo Oikos, lançou um documentário realizado em parceria com a Eletrocooperativa e as Comunidades do Rio Arapiuns. O documentário mostra as riquezas da floresta, mas surpreende com a beleza do povo, a criatividade para driblar os desafios da vida entre os rios.

Fiquei bastante emocionado ao ver o vídeo, particularmente a comunidade de Urucureá, que foi onde comecei a materializar a Tekoha. Hoje além da Tekoha vender os produtos de Urucureá, também comercializa produtos de mais 27 comunidades Brasileiras.

Cada fala nesse vídeo é uma aula sobre como viver em harmonia com a natureza e como lidar de fato com todos os desafios da vida na floresta, que não é fácil. Essas pessoas são inspiradoras, vale a pena conferir!