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domingo, 24 de julho de 2011

Apoio a Negócios Sociais, quais modelos fazem a diferença?


Por Carolina de Andrade (twitter: @andradecarol


Tenho pesquisado sobre modelos mais eficientes de apoio a negócios sociais entre outros. Minha experiência profissional apoiando negócios sociais, além da consultoria que realizei para um projeto do governo inglês inspiraram algumas ideias que compartilho neste post. O projeto do governo, “Times de Inovação e Crescimento”, reúne cinco organizações, entre elas incubadoras e redes de “peer-2-peer”, que oferecem apoio a negócios.

No meu mestrado em inovação estudei sobre modelos de inovação. A primeira proposta era linear, impulsionada pela ciência e tecnologia, e que hoje já foi comprovada ser muito simplista, uma generalização de um modelo “Causal” aplicado para um número reduzido de inovações. Este modelo ignora os inúmeros feedbacks do processo, e principalmente o fato de que na maioria das vezes a inovação ou tecnologia acontece antes de ser explicada cientificamente.

Antes de prosseguir, isso não significa que este modelo linear, que foi o berço dos estudos de inovação deve ser completamente desqualificado, pois não apenas a partir dele os modelos mais apropriados foram identificados, como ainda oferece um grande benefício de organização de ideias e de treinamento de pessoas.

Os modelos de inovação mais recentes são os baseados na demanda e necessidade da sociedade (criado por Jacob Schmookler) e circular co-evolucionário que prevê feedbacks no processo todo. Estas teorias vão ao encontro da teoria de empreendedorismo de Sarasvathy denominada “effectuation”, que é uma oposição ao modelo causal linear de planejamento. Segunda ela, empreendedores de sucesso são menos “causais” e tendem a formar alianças e parcerias de sucesso, criando novos mercados que exigem menos ferramentas tradicionais para penetrar. Vale a pena aprofundamento em suas ideias inovadoras.

Apesar de já existir esta consciência em relação aos modelos de inovação em vários níveis da sociedade, persistimos em reproduzir modelos lineares de apoio a empreendedorismo e crescimento de negócios, acreditando que intervenções planejadas em etapas conduzirão negócios ao sucesso em etapas. O “powerpoint” aceita (quase) tudo que queremos criar, mas na prática isso nem sempre é concretizado. Precisamos revisar estes modelos de apoio ao negócios urgentemente, seja em forma de incubadoras, aceleradoras, políticas públicas, ensino universitário ou outras formas.

Um dos principais insights que tive relacionado ao sucesso e fracasso dos negócios é baseado na importância dos empreendedores em ter agilidade para perceber e mudar o modelo do negócio. Segundo estudos, um novo negócio muda cerca de três vezes de modelo até definir aquele que dá certo. Isso ocorre justamente porque existe uma distância entre planejar e realizar. Estar atento a esta diferença é fundamental. Não tenho dúvida que a razão de muitos negócios se arrastarem anos sem alcançar lucratividade ou de morrerem rapidamente é devido a falta desta agilidade.

Esta capacidade de mudança a partir do feedback dos clientes e do mercado pode ser incorporado em novos modelos de apoio a negócio, se estes não são lineares e preveem momentos de assimilar e inovar com os feedbacks. Levando também em consideração que cada negócio é diferente, ou seja, eles podem ou não obedecer "etapas" pré-estabelecidas.

Dessa forma, eu acredito que não existe uma fórmula ou receita de modelos de apoio a negócios a ser seguida, pois eles são diferentes entre si em várias dimensões: tamanho, tempo, indústria, contexto, etc.

Por outro lado, acredito que alguns modelos podem oferecer aprendizados e princípios para inspiração. Entre algumas iniciativas que têm demonstrado bons resultados, está um modelo de apoio intensivo por curto período de tempo, chamado programa de aceleração. Este modelo tem alguns princípios interessantes para inspirar outras organizações, como flexibilidade para apoiar o negócio de formas diferentes respeitando a diversidade de necessidades, muito networking e apresentação para parceiros de sucesso, apresentação para uma rede de pares, que é fundamental para aumentar sua capacidade de apoio (os negócios podem contar com os pares e não apenas com sua ajuda), e finalmente, mudar o modelo mental de apoio por tempo ilimitado que pode causar problemas de dependência e paternalismo.

No entanto, mesmo as aceleradoras não escapam muitas vezes de cair num modelo linear. Por que isso acontece? Acredito que uma razão para a dificuldade de inovar mais radicalmente nos modelos de apoio a negócios (como para qualquer inovação radical) é que a sociedade tende a coletivamente eleger os modelos de sucesso (processo de difusão) e se aprisionar aos formatos selecionados. Este é um fenômeno estudado por Perez Freeman entre outros pesquisadores de inovação.

Como ser uma plataforma de inovação para "negócios"? Eu começaria optando por modelos mais circulares, interativos, e de curto prazo, utilizando a visão de Sarasvathy e princípios inspirados nos programas de aceleração no mundo, depois de conhecer profundamente quais são os "gargalos" neste tema no seu contexto. E "qual o modelo econômico do seu apoio a novos negócios?" Este é outro debate, que discutirei posteriormente, junto a outros aprendizados que desafiaram minhas crenças neste tema no último ano.

Por Carolina de Andrade (twitter: @andradecarol)

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